Começamos o nosso encontro matando as saudades (que estavam gigantes!), já que ficamos duas semanas sem os nossos deliciosos encontros em razão de mais um lindo projeto que a Angela e o Alexandre Di Miceli tiveram que se dedicar nos últimos dias, o primeiro Re-treat do Programa Lideranças Virtuosas.
Já estamos no nosso 6º encontro do nosso Programa FemLeader, o último referente ao 2º Módulo, "Desvendando mitos para se conhecer". Começo a dar razão para o ditado popular “tudo o que é bom passa rápido” 😊
A Angela começou o nosso encontro recapitulou diversos conceitos que já falamos no passado e sobre a riqueza da nossa singularidade, já que cada ser é único! Somos cerca de 7 trilhões de pessoas no mundo e absolutamente todas são diferentes umas das outras.
Angela lembrou também que a variação entre pessoas de sexos diferentes (feminino e masculino) pode ser MENOR do que a variação entre pessoas do mesmo sexo. Ressaltou, portanto, que o que falaremos no encontro de hoje são apenas padrões dos sexos femininos e masculinos, mas isso não significa que nos identificaremos com tais padrões, pois sempre haverá exceções a estes padrões (dependendo da idade, do momento de vida, eventos internos ou externos, já que o ambiente interfere diretamente no nosso DNA).
Angela relembrou também que ainda há muito o que ser estudado pela ciência no que se refere aos temas femininos. Há menos pesquisas científicas e acadêmicas sobre os benefícios do leite materno, por exemplo, do que sobre os benefícios do café. Inclusive, até a década de 70 não eram realizadas pesquisas com animais fêmeas (ratas, por exemplo) sob a alegação de que o ciclo menstrual delas atrapalhava os estudos.
Corpo e Mente
Angela retomou a questão do dualismo inexistente entre o corpo e mente, já que temos uma interação sistêmica onde o corpo e mente se retroalimentam, são uma coisa só. Lembrou, inclusive, que mente não é só o cérebro, já que pensamentos também devem ser incluídos nessa interferência no corpo e até nas causas de doenças psicossomáticas.
Angela lançou a seguinte pergunta:
XX é mesmo um sexo frágil? (Aqui é importante dizer que nos XX estão incluídas as mulheres e os homens trans)
(i) XX é resultado de uma maior cooperação genética (diversidade que se complementa e se suplementa conforme exigido pelo ambiente).
Toda a nossa codificação genética (cor dos olhos, cabelo, como funcionam os nossos olhos e etc.) vem do “X”. O “Y” tem apenas uma única informação, que é a produzir espermatozoides (todo o resto é feito pelo “X”).
Então, o fato de nós mulheres termos uma duplicidade de “X” (um “X” materno e um “X” paterno) faz com que tenhamos um sistema imunológico duplo (mais agressivo contra invasores). Logo, XX são pessoas mais fortes em todas as fases da vida (desde o nascimento até a velhice). Ou seja, temos menos risco de câncer (e se tivermos, temos mais chance de superá-lo). No entanto, temos, por outro lado, maior risco de apresentar doenças autoimunes, justamente pelo fato do nosso sistema imunológico ser tão mais forte, que ele pode acabar por ultrapassar o limite do seu funcionamento.
(ii) Além desta maior resiliência em relação ao XY em razão do fator hormonal, cromossômico (conforme explicado acima) e do fato de sofremos mais mutações (que nos traz mais imunidade), temos também uma maior economia de energia no nosso organismo (temos uma menor massa muscular e menor taxa metabólica de uso dessa energia em repouso). Ou seja, precisamos de menos energia para fazer o nosso corpo funcionar, o que faz com que aproveitemos muito mais os nutrientes que ingerimos e que sejamos mais autossuficientes do que uma pessoa XY (que precisa de um consumo muito maior de energia para sobreviver).
Por esta razão temos visto mais e mais mulheres vencendo as ultramaratornas.
Ex1: Courtney Dauwalter, que chegou mais de 10 horas antes do segundo colocado em uma ultramaratona de 384km.
Ex2: Jasmin Paris na Montane Spine Race que venceu em 83hs, dormindo apenas 3hs durante a prova (bateu o recorde anterior e chegou com 12h de diferença do segundo colocado). E mais, extraiu leite para a filha de 14 meses em duas paradas! Tratava-se de uma ultramaratona de 430km onde era preciso carregar tudo o que precisa para finalizar a prova, em um terreno montanhoso, com escalada de 13.000 metros, no inverno (ou seja, 2/3 do percurso é feito no escuro).
Após todas essas valiosas informações que a Angela nos brindou, fica a pergunta para reflexão:
Nós mulheres somos mesmo um sexo frágil?
Angela traz um vídeo muito divertido sobre essa falsa ideia de que somos o “sexo frágil”. O vídeo simula no homem a dor da cólica menstrual (há vários destes vídeos muito divertidos no Youtube, vale a pena dar uma olhada lá 😉). Eles não suportam a dor que nós suportamos.
Cérebro
No que se refere ao cérebro, o do XY é maior em tamanho, mas tem a mesma quantidade de neurônios do que o cérebro XX. Ou seja, o desempenho cerebral de uma pessoa XX e de uma pessoa XY é o mesmo! O funcionamento é que é diferente, ou seja, os cérebros XY e XX usam diferentes circuitos e áreas:
- Uma pessoa XX ativa mais áreas do cérebro ao mesmo tempo (o que nos dá uma maior amplitude na percepção das coisas, mas demanda mais tempo para isso);
- As áreas de linguagem e audição: são 11% maior em pessoas XX (isso é muito em virtude de não termos tanta testosterona no nosso organismo);
- O hipocampo do cérebro de uma pessoa XX é maior, o que significa que temos um melhor processamento de emoção e uma melhor memória;
- A área do interesse sexual, da ação e da agressão é 2,5 maior em pessoas XY do que em pessoas XX.
Habilidades XX
No que se refere às habilidades, as pessoas XX têm mais: agilidade verbal, memória, audição, possibilidade de conexão profunda com pessoas, sensibilidade social (capacidade de perceber emoção no outro: rosto, tom de voz, estado de espírito) e capacidade de desarmar conflitos.
A nossa compreensão social, por ser maior, faz com que estejamos mais suscetíveis do que as pessoas XY às críticas, às convenções sociais, ao que é compreendido/percebido pela sociedade como “certo” e “errado”, fazendo com que moldemos o nosso comportamento (infelizmente!) para “atendermos” e nos “encaixarmos a essas pressões sociais.
Mas o que tudo isso tem a ver com Mulheres na Liderança?
Segundo uma pesquisa realizada em 2014 (Gender Similarities and Diferences), que analisou 46 meta análises (ou seja, dados de milhões de pessoas) para analisar as competências relativas ao gênero, ficou comprovado que as mulheres têm frequência muito menor de: excesso de confiança, narcisismo e psicopatia. O interessante é que essas características facilitam a chegada no topo das organizações, mas prejudicam a performance.
Assim, as mulheres demoram mais para chegar no topo (por diversas razões), mas, em regra, conseguem entregar o que se espera, já que elas têm frequência muito menor de apresentar estas três características (excesso de confiança, narcisismo e psicopatia).
Além disso, este estudo demonstrou, em 78% dos casos, que não há qualquer diferença ou que há uma diferença insignificante entre competências relacionadas aos gêneros, inclusive no que se refere à ambição! A questão aqui é que, quando as mulheres falam que são ambiciosas isto não é bem visto pela sociedade. E, como percebemos melhor a sociedade do que pessoas XY, nós deixamos de falar sobre as nossas ambições para nos “moldarmos” a essa pressão social.
Nesse mesmo estudo, foram identificadas diferenças substanciais em competências relacionadas ao gênero em apenas 22% dos casos. E quais são estas competências?
- homens jogam objetos mais longe e mais rápido (o que é absolutamente irrelevante para um ambiente organizacional, certo? 😊)
- homens tendem a se masturbar mais do que as mulheres (o que também é absolutamente irrelevante para um ambiente organizacional, certo? 😊)
- homens tendem a ter uma visão mais positiva de sexo casual do que as mulheres (o que também é absolutamente irrelevante para um ambiente organizacional, certo? 😊).
Comprova-se, portanto, que a variação existente entre pessoas XX e XY é MENOR do que em pessoas do mesmo sexo! A grande questão é que nós mulheres somos mais julgadas. Por esta razão, nosso comportamento muda e consequentemente nosso corpo também.
Comportamento dos grandes símios:
Sexualidade
Sobre este tema a Angela repassou o que já havíamos comentado sobre o comportamento de grandes símios:
- a ciência assumia que as XX tinham parceiros únicos. No entanto, após realizarem um teste de DNA (de chimpanzés a pássaros) percebeu-se que a relação sexual nos grandes símios tem outro objetivo que não simplesmente o de procriar (ex: 6.000 relações para 5 filhotes).
- viram também que todos os mamíferos fêmeas têm clitóris e que este órgão não se trata de uma parte subdesenvolvida do pênis (como já se acreditou no passado!). O clitóris é um órgão funcional e presente em todos os mamíferos fêmeas.
Mito do “Macho Alpha”
Este mito foi desconstruído, ao perceberem que o Macho Alpha (tanto em chimpanzés quanto em lobos) não é agressivo (como se acreditava)! Viram que o Macho Alpha é assim considerado em razão da sua responsabilidade de zelar e cuidar do grupo, separando brigas, protegendo os mais vulneráveis e mostrando empatia.
Mas o mais interessante disso é que o Macho Alpha só se torna “Macho Alpha” quando a Fêmea Alpha assim o permite. O Macho Alpha a corteja para ser alçado para esta posição. Isso nos chimpanzés (no lobo ainda não está comprovado).
Mito da Maternidade
No que se refere à maternidade, nos grandes símios não há pressão social para as fêmeas terem filhotes e não há instinto materno. Uma aprende com a outra como cuidar do bebê. Logo, se os chimpanzés não sabem de antemão (instintivamente) como lidar com os bebês, nós mulheres também não temos a obrigação de saber e não devemos nos culpar por isso!
Mesmo assim, infelizmente ainda somos muito cobradas e julgadas a todo o momento, como se a maternidade fosse algo compulsório para as mulheres. Isso acarreta, inclusive, índices altíssimos de suicídio no puerpério (20% das mortes de mulheres nesse período é por suicídio).
Na segunda parte do nosso encontro de hoje recebemos a querida especialista em medicina da longevidade Hellen Fogo (@aacademiaintegrativa). A Hellen nos brindou com todos os seus ensinamentos sobre funcionamento hormonal, alimentação, ciclicidade e sabedoria femininas, trazendo um riquíssimo histórico desde a nossa ancestralidade, o que nos permitiu compreender muito sobre quem somos!
Eu já tinha assistido a palestra da Hellen na primeira edição do FemLeader e já tinha ficado absolutamente encantada, mas fiz questão de rever e de aprender ainda mais com ela. Que privilégio ouvi-la!
E assim chegamos ao fim do Módulo 2, que nos fez conhecer as grandes falácias que ainda circulam em nosso dia a dia e nas nossas mentes (ex: o sexo feminino é frágil). Aprendemos que, apesar dos sexos feminino e masculino serem bem diferentes, temos que nos desvencilhar da mentalidade das alternativas: ou isso, ou aquilo. Essa mentalidade limita o nosso pensamento. O importante é adotarmos uma mentalidade “abundante”, que respeite a nossa complexidade como seres humanos e que expanda as nossas possibilidades! Até o próximo encontro e início do Módulo 3 😊
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