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Programa Lideranças Virtuosas - Debate sobre o Livro: “You are not Listening" de Kate Murphy

Foto do escritor: Izabel AlbuquerqueIzabel Albuquerque

Hoje foi o dia de debatermos a quarta obra da nossa série de livros do Programa Lideranças Virtuosas 2023.


Antes de começarmos a nossa conversa sobre o livro, Alexandre nos presentou com um vídeo lindo e muito emocionante, diante da sua absoluta simplicidade. Quem realmente importa para você? Se você pudesse levar alguém (vivo ou que já morreu) hoje para jantar, quem você convidaria? Pensou? Decidiu? Então agora dá uma olhada nesse vídeo e me diz o que achou? 😊


O livro, escrito por Kate Murphy, trata de um tema de extrema relevância: A importância de escutar o outro, já que a escuta é a base da comunicação e da construção de relações de confiança. É através da escuta que verdadeiramente nos conectamos e, consequentemente, aprendemos, empatizamos e amamos o outro.


Vivemos em uma época em que todos se preocupam muito mais em falar do que em escutar. Segundo Kate, enfrentamos, atualmente, uma verdadeira crise de escuta, que se intensifica com a vida cada dia mais acelerada e com os smartphone e tablets que nos bombardeiam de informações o tempo todo, capturando as nossas atenções e tornando as nossas comunicações cada vez mais superficiais.


Essa ausência de escuta e, consequentemente, de conexão entre as pessoas, tem levado a uma epidemia de solidão em todo o mundo (um fator de risco para a morte prematura tal como o tabaco, o alcoolismo e a obesidade) e que colabora para o aumento global nas taxas de suicídio.


Kate deixa claro que escutar, de forma cuidadosa e atenciosa, não se alcança através de um simples checklist. Para a autora, a arte de escutar é a arte de ser humano na melhor acepção da palavra.


Mas por que é tão difícil escutar com qualidade? Kate lista três motivos principais:


(i) O nosso processo de cognição: A maneira como a nossa mente funciona e como processamos as informações. Ou seja, o nosso cérebro é muito mais rápido para pensar do que as outras pessoas conseguem falar. É o “diferencial entre fala e pensamento” que faz com que tenhamos “viagens mentais paralelas” enquanto o outro fala conosco. Pessoas inteligentes ainda tem menos capacidade de escuta, porque tendem a acreditar que já sabem o que o outro vai dizer e completar mentalmente o raciocínio do outro, perdendo o interesse pelo que o outro está falando. Para Kate, a maior barreira para mantermos a nossa mente atenta no outro é a nossa irritante preocupação de pensarmos no que vamos dizer no nosso momento de fala. Outra dificuldade ocorre em razão dos nossos vieses da confirmação e da expectativa, pois tendemos a superestimar o que já sabemos sobre as pessoas com base em falsas suposições geradas pela nossa obsessão por ordem e consistência.


Há também o viés da comunicação de proximidade. É por isso que as pessoas frequentemente não se sentem escutadas pelos seus parceiros, pois, em relacionamentos de longo prazo, tendemos a perder a curiosidade pelo outro por acreditarmos que já conhecemos praticamente tudo sobre ele(ela).


Ainda, escutar é particularmente difícil quando o outro manifesta uma visão contrária à nossa, pois ativa a nossa amígdala, as regiões mais primitivas do nosso cérebro, como se estivéssemos sendo perseguidos por um urso! As pesquisas demonstram que existe uma relação inversa entre a atividade da amígdala e as áreas do cérebro envolvidas na escuta cuidadosa, ou seja, quando a nossa amígdala está ativada, nos fechamos para a escuta, para a aprendizagem, pois ativamos o “modo sobrevivência”. Para escutarmos, temos que nos sentir seguros!


(ii) Traços individuais associados ao nosso processo de socialização: A qualidade dos relacionamentos que desenvolvemos com os nossos cuidadores durante a infância influencia na nossa capacidade de escuta. Quanto melhor os nossos pais nos escutaram e fomos conectados a eles, maior a nossa capacidade de escuta e de conexão com as pessoas.


Obviamente Kate destaca que a história não precisa ser o nosso destino. Ainda que não tenhamos tido uma boa experiência na infância, podemos mudar de comportamento em nossos relacionamentos. Para tanto, devemos nos dedicarmos a aprender, a escutar e a sermos emocionalmente responsivos às outras pessoas.


(iii) A cultura da vida moderna potencializada pela tecnologia: Tem tornado a escuta de qualidade ainda mais difícil, senão praticamente impossível. A dependência que temos dos nossos smartphones se assemelha à uma dependência de substâncias viciantes em termos comportamentais, psicológicos e neurobiológicos. Se antes recorríamos, por exemplo, ao cigarro em momentos de ansiedade, hoje buscamos os nossos smartphones.


Diante destes desafios, o que podemos fazer para melhorar a nossa capacidade de escuta?


Antes de responder a essa pergunta, a autora faz um lembrete importante: ouvir é diferente de escutar!


- Ouvir: é passivo, físico e mecânico.

- Escutar: é ativo e multidimensional. Escutar com qualidade significa demonstrar interesse no outro a fim de compreender seus pensamentos, emoções e intenções. Para conseguirmos isso, precisamos nos deixar levar física, química, emocional e intelectualmente por sua narrativa. Quando escutamos verdadeiramente, é como se estivéssemos “dançando” com a outra pessoa, entramos em sintonia por meio de uma sincronização das nossas ondas cerebrais. Nas palavras de Kate: “escutar se refere à experiência de ser vivenciado pelo outro”.


Mas quais são os comportamentos de alguém que escuta mal?

- Interromper quem está falando;

- Responder de forma vaga ou ilógica ao que foi dito;

- Olhar para o telefone, para o ambiente ou para algum lugar distante; e

- Ficar se mexendo ou demonstrar inquietação (ex: bater na mesa, mudar de posição com frequência)


Se identificou com algum? Tá tudo bem….eu também me identifiquei com vários! O importante agora é compreendermos como podemos melhorar estes comportamentos para passarmos a escutar com qualidade.


Kate nos traz algumas dicas:


Em primeiro lugar, ela alerta que escutar com qualidade é muito mais uma mentalidade do que um checklist do que fazer ou não fazer. Kate critica a maneira como a expressão “escuta ativa” foi difundida no mundo corporativo, de forma estreita e distorcida, com o foco em definir táticas para dar a impressão de que nos importamos com a outra parte, ou seja, a ênfase é dada na aparência do ouvinte ativo e não no que ele(a) faz! O conceito de “escuta ativa” criada pelo psicólogo Carl Rogers nos anos 1950, se refere a um estado de espírito receptivo (escutar as palavras, os pensamentos, os tons emotivos, o significado pessoal do outro) e não a um conjunto de procedimentos de escuta.


Segundo Murphy, alguns segredos da boa escuta são:

- uma postura interna de curiosidade, ou seja, fazer perguntas movidas por um sentimento genuíno de interesse;

- coragem, para abrirmos a porta do desconhecido e imprevisível;

- complexidade cognitiva, ou seja, capacidade de lidar com ideias contraditórias e zonas cinzentas;

- sensibilidade conversacional, ou seja, prestar atenção não apenas às palavras faladas, mas também em nuances ocultos no tom de voz da outra parte;

- saber fazer as perguntas certas, ou seja, perguntas que estimulem as pessoas a falar mais e com maior clareza sobre os seus pensamentos, sentimentos e motivações.


Aqui Kate ressalta que um bom ouvinte tem “respostas de apoio” (ao invés de “resposta de mudança”), que estimulam a pessoa que está falando a elaborar mais o seu raciocínio por meio de perguntas abertas e orientadas ao outro. Isso permite estreitar laços e compreender melhor o tema em questão, ao invés de procurar ajustar ou corrigir o outro. As respostas de apoio são oferecidas pelos genuinamente curiosos!


Tudo isso exige prática e muito esforço, pois, na visão da autora, nenhum de nós é naturalmente um bom ouvinte! Trata-se de uma habilidade que precisamos nos dedicar e praticar constantemente para evitar que se deteriore no tempo.


Escutar com qualidade é o maior presente que podemos dar a alguém! Trata-se de um sinal de respeito, admiração, afeto e reconhecimento do valor do outro. Aqui Kate cita o filósofo Henry David Thoreau: “o maior elogio que já recebi aconteceu quando alguém me perguntou o que eu achava e prestou atenção à minha resposta.


Mas, por fim, Kate explica que escutar com qualidade drena muita energia. Por isso, se você sentir que não está intelectual ou emocionalmente preparado para escutar uma pessoa num determinado momento, se respeite e não se sinta mal, pois isso faz de você apenas humano, ok?


Agora vamos refletir um pouco? Quando foi a última vez que você realmente escutou alguém? Quando foi a última vez que alguém realmente te escutou? Desejo que você esteja na lista dos “sortudos” que consiga elencar mais de uma ou duas pessoas e, assim, ultrapassar a grande maioria dos entrevistados de Kate que não possuem ninguém para escutá-los. Mas não vale fazer como estes entrevistados que elencaram terapeutas, coaches ou cabeleireiros, ok? Pois estes são pagos para escutar 😉.

Para ter acesso a uma espetacular resenha do livro “You are not Listening: What you´re Missing and Why it Matter”, preparada por Alexandre Di Miceli, que, inclusive, usei, como fonte de inspiração, para elaborar este breve resumo que escrevi aqui para vocês, basta adquirir o livro: “Pílulas de Liderança, volume 2” aqui.


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